Hepatite C
Informativo 38 – Revisto Janeiro 2004
Tradução Wilson Lobo
O vírus da hepatite C foi identificado pela primeira vez nos anos oitenta. Apesar de não estar associado a outros tipos de vírus da hepatite, ele poderá causar sintomas semelhantes. É transmitido principalmente através do contato sangüíneo, sendo que os grupos mais atingidos são os usuários de drogas injetáveis, e, aqueles que recebem sangue e produtos do sangue, como os hemofílicos. As pessoas destes grupos poderão também estar co-infectadas com HIV.
Há cada vez mais evidências de que a hepatite C pode ser transmitida sexualmente. Embora os mecanismos não estejam claros, supõe-se que o risco possa estar relacionado a práticas sexuais que envolvem contato com o sangue, principalmente com o ‘fisting’ [penetração no ânus ou na vagina com o punho] ou o ‘rimming’ [sexo oral no ânus] e com a penetração anal sem proteção. Pesquisas realizadas com casais heterossexuais têm demonstrado que o risco de transmissão pelo sexo é baixo.
Contudo, esta permanece uma área de controvérsias e as pesquisas estão em andamento. As pessoas infectadas com HIV e hepatite C podem estar mais propícias a transmitir a hepatite C pelo sexo, talvez porque elas freqüentemente têm uma maior quantidade do vírus em seus fluidos genitais do que as pessoas HIV – negativas.
As estimativas atuais são de que 10% das crianças nascidas de mães com hepatite C contrairão o vírus; e esta taxa, porém, aumenta para 25% no caso das mães serem também HIV – positivas.
Sintomas e Doença
Os sintomas da infecção pelo vírus da hepatite C variam, menos de 5% das pessoas que contraem o vírus desenvolvem os sintomas agudos da hepatite, como visão deformada, icterícia, diarréia e náusea no momento da infecção, e algumas pessoas não apresentam sintomas em nenhum estágio. Para aquelas que os apresentarem, os sintomas mais comuns são de cansaço extremo e depressão.
Não se sabe qual a proporção das pessoas com hepatite C que desenvolverá doença hepática. Um pequeno número de pessoas infectadas com hepatite C conseguirá se livrar da infecção.
Aproximadamente 85% das pessoas infectadas desenvolverão hepatite C crônica e contínua. Os padrões da progressão da doença parecem variar consideravelmente de pessoa para pessoa. Algumas pessoas talvez nunca apresentem sintomas, outras podem começar a sofrer cansaço extremo e náusea por dez a quinze anos após a infecção, enquanto que uma minoria significativa desenvolverá doença hepática grave. A variação na gravidade da hepatite C pode refletir diferenças entre os tipos de vírus da hepatite C. Outros fatores, como ser do sexo masculino, consumir bebidas alcoólicas, ter uma idade avançada e ser HIV – positivo também podem acelerar a progressão da hepatite C.
É sabido que em média as pessoas que têm somente hepatite C levam de 30 a 40 anos para desenvolver a cirrose.
Não está esclarecido o prognóstico das pessoas co-infectadas com HIV e hepatite C. Estudos recentes sugerem que o HIV pode causar danos ao fígado das pessoas co-infectadas, e essas poderão sofrer uma rápida progressão à AIDS.
Diagnóstico
Um exame de sangue para identificar anticorpos para hepatite C poderá revelar se você foi ou não exposto ao vírus, podendo ser usado o teste de carga viral para confirmar a infecção. Os exames das funções hepáticas podem dar alguma indicação se a hepatite C danificou seu fígado, mas isso só poderá ser propriamente demonstrado através de uma biópsia do fígado, na qual uma pequena amostra de tecido hepático é removida.
A infecção pelo HIV pode dificultar o diagnóstico da hepatite C, pois as pessoas HIV – positivas podem não revelar a infecção no teste dos anticorpos.
Tratamento
A recomendação atual é iniciar o tratamento para hepatite C somente se a função hepática estiver constantemente anormal. O objetivo do tratamento é normalizar as enzimas do fígado (um referencial da função hepática), diminuir a carga viral do vírus da hepatite C, melhorar a inflamação do fígado e prevenir a progressão para cirrose ou câncer.
O tratamento da hepatite C não dura toda a vida, mas geralmente de 24 a 48 semanas. Atualmente três drogas antivirais são aprovadas para tratar a hepatite C: interferon alfa (injetável), acompanhado ou não por um medicamento chamado ribavirina e uma nova fórmula de droga denominada interferon alfa peguilado que é administrada com a ribavirina. A Associação Britânica para o HIV recomenda que a hepatite C seja tratada com uma combinação de interferon alfa peguilado e ribavirina. Os efeitos colaterais podem ser graves, mas tendem a diminuir com a progressão do tratamento. Estes incluem febre alta, dor na articulação, depressão e baixa contagem dos leucócitos. A ribavirina não deve ser tomada simultaneamente com o AZT, e não deve ser administrada na gravidez.
Não se sabe a melhor forma de tratar pessoas infectadas pelo HIV e hepatite C. A maioria dos especialistas recomenda tratar primeiramente a infecção que possa representar risco de vida imediato, que na maior parte dos casos será o HIV. Contudo, o tratamento com alguns medicamentos anti-HIV, como por exemplo, com inibidores de protease, pode ser problemático para as pessoas com o fígado danificado, e requer um monitoramento muito cuidadoso. Há evidência de que a recuperação do sistema imunológico, observada em muitas terapias bem sucedidas para HIV, pode temporariamente aumentar o risco de dano no fígado das pessoas com hepatite C.