É sabido que a abordagem de pacientes contaminados pelo HIV é geradora de vários sentimentos nos profissionais de saúde: ansiedade, frustração, raiva, impotência, entre outros. A AIDS é uma doença que envolve vários temas difíceis de serem discutidos: sexualidade, uso de drogas, valores morais e morte. Os profissionais de saúde, em sua maioria, são pouco instrumentalizados para lidar com estas questões, principalmente devido a falhas na formação.
O médico, além de elaborar diagnósticos, discutir resultados de exames e instituir terapêuticas, exerce urna função psicoterápica, ernbora, em muitos casos, não tenha consciência disto. Este fato aumenta ainda mais a responsabilidade do profissional diante do paciente e seu cornpromisso no sentido de evitar iatrogenias.
Para ocupar o lugar de terapeuta, o médico precisa instrumentalizar-se. A discussão de casos sob a ótica da relação médico-paciente, os grupos de estudos e as supervisões podem auxiliar nesta qualificação do profissional. Os grupos de inspiração Balintiana (Michael Balint, médico húngaro) podem ser uma importante ferramenta para alcançarmos tais objetivos. Nos grupos Balint, a discussão dos atendimentos é realizada buscando o entedimento da forma como a intervenção se dá. Desta forma, a atitude do médico poderá sofrer uma transformação à medida que são discutidos também as atitudes, os sentimentos e a postura do médico diante do caso. Daí surgir a possibilidade para o médico de desenvolver uma compreensão de si mesmo como objeto de relação, que pode suportar ou não as demandas do paciente.
Ao se lidar com os sentimentos de frustração, raiva e ansiedade citados acima, os grupos de profissionais vão ser beneficiados e terão seu trabalho facilitado. Poder-se-á entrar em contato com seus preconceitos, valores morais e seus sentimentos em relação a determinados pacientes. Trazendo estas questões para o “consciente” elas poderão ser elaboradas e evitar-se-á que interfiram de maneira negativa no atendimento.
Além do atendimento, o médico também pode se beneficiar como pessoa, discutindo suas limitações, suas angústias e dificuldades, podendo assim melhorar sua qualidade de vida.